Dom João Carlos Seneme, Bispo da Diocese de Toledo. Foto: Divulgação

Jesus caminhava em direção a Jerusalém. E, ao caminhar, propunha aos seus discípulos as condições para o seguimento que o evangelista Marcos reuniu em uma catequese organizada as características do discipulado: “Quem não é contra nós é por nós… Se a tua mão te é motivo de escândalo, corta-a”. “O homem não separe o que Deus uniu… Quem repudiar sua esposa e se casar com outra comete adultério contra ela; e se ela, tendo repudiado o marido, se casar com outro, comete adultério”. “Falta-te uma só coisa: vai, vende o que tens e dá aos pobres; e vem! Segue-me!”.

O Evangelho de hoje (20/10) é colocado no final da seção dedicada à apresentação da identidade de Jesus (Mc 10,25-45). Na primeira parte estão Tiago e João que pedem o impossível: sentar-se um à direita e outro à esquerda de Jesus quando ele se tornar “rei. A pretensão dos dois discípulos estava ligada à crença de que o Messias seria um rei glorioso e poderoso, que instauraria o reino de Deus vencendo seus inimigos e distribuiria os cargos de comando a seus discípulos.

Em seguida, Jesus lhes anuncia novamente a sua paixão e morte. Beber do mesmo cálice significa participar da paixão redentora; é o batismo de sangue próprio do martírio. Jesus foi direto ao ponto em relação às pretensões dos filhos de Zebedeu e antecipou que os apóstolos participariam generosamente de sua experiência de sofrimento e morte, mas, quanto aos primeiros lugares, Deus os daria a quem ele quisesse.

Em um terceiro momento entram em cena os outros discípulos, que “começaram a se indignar contra Tiago e João”. A resposta de Jesus é calma, quase benevolente. Ele procura instruir, em vez de repreender, e define o estilo do discípulo com a imagem do “servo”: “Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Na comunidade do Messias, é grande apenas quem serve. Esta é a grande revolução na compreensão cristã da autoridade.

“O Filho do homem não veio para ser servido”. Esta frase é o ponto forte de todo o ensinamento. Diante do poder, Jesus aponta a necessidade do serviço, que Ele mesmo praticou durante toda a sua vida. Jesus é, na realidade, o Servo de Javé. Por isso, também é o servo de seus irmãos, homens e mulheres de todos os tempos. Na noite em que foi traído, antes de dar sua vida por amor, lavou os pés de seus discípulos, e pediu que esse gesto fosse indicador e revelador de sua missão. Ele exige que o serviço identifique seus seguidores para sempre.

Os discípulos tiveram muita dificuldade em compreender o mistério da identidade do Filho de Deus. Eles não conseguiram reconhecer naquele Mestre o Messias de quem os profetas haviam falado.

E assim também acontece conosco. Quantas vezes somos forçados a reconhecer nossa pobreza espiritual, nossa escassa sabedoria evangélica! Seguir Cristo, ser seus discípulos, significa acolhê-lo como Redentor e Salvador da humanidade; acolher sua Palavra, seu ensinamento; seguir os mandamentos; entender sua lição de “amor até o fim” e entregar a vida: é a lição da Cruz. A lógica da Cruz e do Evangelho segue as regras do serviço.

Hoje é o Dia Mundial das Missões. Dia da Campanha Missionária: Ide e convidai para o banquete do Reino a todas as criaturas! Como Igreja temos o compromisso de nos dedicar com maior coragem e ardor à missão para que o Evangelho alcance os confins da terra. Todos os batizados devem apoiar, com oração e ajuda material, os missionários que são os heróis da fé e da civilização.

Dom João Carlos Seneme, css

Bispo de Toledo