Há alguns domingos estamos acompanhando missão de Jesus pela Galileia na direção de Jerusalém. Os discípulos caminham com ele e Jesus dedica muito do seu tempo catequizá-los na dinâmica do seguimento. O que importa neste momento é que os discípulos tomem consciência de quem é Jesus e aprendam a purificar a ideia que têm do Messias. Durante o caminho, diversas vezes Jesus anuncia o que vai acontecer em Jerusalém: ele vai sofrer, morrer e ressuscitar no terceiro dia. Os discípulos não conseguem compreender com clareza o que isto significa.
O Evangelho deste domingo (Mc 9,38-48) relata uma pequena história, semelhante à que encontramos na vida de Moisés, sobre o espírito que é dado gratuitamente a dois personagens que não pertenciam ao grupo dos anciãos. Hoje, o apóstolo João conta que encontrou alguém que faz milagres e exorcismos e quer detê-lo porque ele não pertence ao grupo de Jesus. Mas Jesus, em uma resposta que se assemelha à de Moisés, exige que ele não seja impedido, porque todo aquele que faz o bem não pode ser contra Jesus.
O fato está relacionado com o evangelho de domingo passado quando Jesus exalta pequeninos que se tornam símbolo dos destinatários do evangelho. Os “pequenos” da comunidade não podem ser abandonados. Este é o verdadeiro escândalo. Eles fazem parte da comunidade, acolheram a fé e necessitam de um cuidado especial: eles podem se escandalizar com a atitudes dos outros e serem induzidos ao pecado.
O evangelho coloca em evidência o que acontece também em nossas comunidades. De um lado estão os que se consideram “fortes” seguidores de normas e regras e que, muitas vezes, desprezam os mais fracos que não acompanham as regras e leis. São Marcos chama a atenção para o que é essencial: os mais fracos devem colocados no centro, cuidados com todo carinho para que não “tropecem” e se percam no caminho.
Em seguida, Jesus apresenta um conjunto de ditados, próprios da cultura de Jesus, que ressaltam uma linguagem de contrastes. O modo de falar exige modificar radicalmente nosso modo de ver e de agir: cortar a mão (modificar as ações), cortar o pé (mudar o rumo) ou arrancar o olho (transformar a visão). Trata-se de um processo que nos impulsiona a ser mais acolhedores e misericordiosos.
O bem não é propriedade de nenhum grupo; a vitória contra o mal é fruto do poder de Jesus Cristo ressuscitado agindo em tudo e por meio de todos. A manifestação de nossa fé deve ajudar outras pessoas a buscarem o sentido da vida que se encontra em seguir Jesus Cristo, procurando fazer o que ele fez. O exemplo mais bonito que temos é a atitude do samaritano quando encontra aquele homem ferido; não importa quem ele é, o que interessa é que ele precisa de ajuda. Ao morrer na cruz, Jesus entregou sua vida por todos, sem distinção: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo, 10,10).
Dom João Carlos Seneme, css
Bispo de Toledo