Dilceu Sperafico*
No País onde nem todos os consumidores reconhecem e valorizam a contribuição do agronegócio para a sua própria sobrevivência, através da produção, transformação e oferta de alimentos com qualidade, diversidade, sustentabilidade e a preços acessíveis, a união entre agricultores e moradores de áreas urbanas deveria ser meta de ambas os segmentos da sociedade. Afinal, como destacam especialistas, a união entre consumidores e agricultores possibilitaria o cultivo e oferta de mais e melhores alimentos para o bem de toda sociedade. O apoio à agricultura criaria modelo de economia de partilha que garantiria escoamento de alimentos tradicionais e/ou agroecológicos, permitindo futuro seguro, equilibrado e sustentável a segmentos da agricultura, começando pela atividade familiar. Pode parecer fantasia, ideologismo e estar muito longe dessa parceria ideal, mas esse é objetivo de Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA).
Esses grupos em formação em diversos países trabalham com a chamada economia de partilha ou economia de suporte comunitário. Funciona com grupo de consumidores que se compromete a cobrir, por período de tempo previamente acordado, o orçamento anual de organismo agrícola, seja sítio, chácara, granja ou fazenda. Em contrapartida, os consumidores recebem os alimentos cultivados pelos agricultores sem custos adicionais. Assim, os produtores podem se dedicar ao cultivo e colheita, sem a pressão do mercado e dos preços. Já os consumidores, que passam a ser chamados de co-agricultores, recebem alimentos sustentáveis, de qualidade e diversidade, além de conhecer de perto quem os cultiva e os locais onde são cultivados.
Conforme a Associação Comunitária CSA Brasil, essas entidades existem em vários países e chegaram ao Brasil em 1997, com associação nacional reunindo mais de 200 instituições e visando a adoção de metodologias pelos seus membros através de agroflorestas e cultivos biodinâmicos. As entidades não têm fins lucrativos e fomentam a criação de novas CSAs, fortalecendo o vínculo entre as já existentes. Segundo a instituição nacional, o movimento das CSAs está em todos os continentes e no Brasil, começou em Fortaleza, no Ceará, com entidade ligada ao desenvolvimento da agropecuária orgânica. Conforme a CSA Brasil, o funcionamento das entidades está em grupo de pessoas que se reúne com um ou mais parceiros que carregam a expertise ou dom de cultivar a terra, no sentido da tradição e habilidade.
Juntos, levantam os custos necessários à viabilização da própria agricultura, incluindo as necessidades materiais dos que cultivam o solo. Então esse grupo de consumidores garante a sustentação necessária para o cultivo e comércio dos alimentos produzidos. Em troca, são lhes fornecidas cotas periódicas do que é cultivado e colhido, por meio de compromissos
firmados conscientemente por períodos predeterminados, com avaliação conjunta tanto no decorrer destes períodos como no seu final, visando firmar novas parcerias. O que está no centro dessa relação não são as leis básicas da economia, mas o princípio da fraternidade econômica. Por isso, quando se divide os custos do organismo agrícola, pouco importa a relação entre oferta e procura. O que confere valor a esta relação é a disposição consciente da partilha, a vontade de não apenas financiar o plantio, mas garantir o desenvolvimento saudável a todas as etapas da agropecuária.
*O autor é deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado E-mail: dilceu.joao@uol.com.br