Em Toledo, na manhã dessa quarta-feira, um leitor indignado se viu diante de um dilema peculiar. “Não sei se choro ou se rio”, disse ele. A origem de sua perplexidade era uma denúncia feita sobre o descuido de uma obra municipal parada, cercada por mato alto e entulhos, contrastando com uma multa repentina aplicada ao seu imóvel, onde a vegetação não ultrapassava os 30 centímetros de altura, sem lixos ou focos de proliferação de mosquitos.
A ironia não escapou à sensibilidade do leitor, que expressou sua indignação com voz embargada. “Deu para mim!”, afirmou, apontando para a disparidade entre o exemplo que deveria vir do órgão público e a realidade de multas severas direcionadas aos cidadãos que pagam seus impostos em dia.
A realidade não demorou a corroborar suas palavras. Uma investigação rápida no Diário Oficial revelou que, em apenas um dia, 44 multas foram emitidas em Toledo, totalizando mais de R$ 238 mil para os cofres municipais. Os valores variavam desde modestos R$ 1.130,61 até a cifra exorbitante de R$ 71.791,94. A disparidade era evidente, como se duas medidas fossem aplicadas dependendo do alvo da fiscalização.
Uma visita ao Jardim da Mata, onde a denúncia se originara, revelou um cenário surreal: o Município estava cortando o mato alto que escondia a obra abandonada, conforme mostrado nas páginas deste jornal. A pergunta que ecoava era inevitável: se a lei é municipal, por que a própria prefeitura não era alvo de multas semelhantes?
Essa dualidade de critérios não é apenas um reflexo das contradições sociais, mas também uma narrativa vívida sobre a falta de equidade e transparência no sistema de fiscalização. Enquanto os cidadãos são punidos com rigor, as instituições públicas muitas vezes escapam às mesmas regras que deveriam garantir um ambiente justo e igualitário para todos.
Nessa minha visão, o leitor indignado serve como um eco das vozes silenciadas pela arbitrariedade das multas e pela falta de responsabilidade das autoridades. É um lembrete contundente de que a justiça deve ser cega, mas nunca indiferente às nuances e injustiças que permeiam nosso cotidiano.