A tema da manchete do dia 29 de março de 2024 ecoou por corredores hospitalares e centros de saúde como um lamento não ouvido. “Enfermagem pede socorro enquanto a população aguarda atendimento” – uma frase que resumia o desespero crescente dos profissionais de Enfermagem que enfrentam uma crise sem precedentes.
Desde então, pouco ou nada mudou. Na verdade, a situação se agravou para os auxiliares, técnicos e enfermeiros da UPA, do Mini-Hospital e do Hospital Regional que, dia após dia, veem suas responsabilidades aumentarem enquanto os recursos e o apoio diminuem. Como uma tempestade perfeita, a combinação de números insuficientes e uma gestão engessada criou um cenário desolador.
Segundo relatos alarmantes, as equipes de enfermagem estão sobrecarregadas além dos limites humanos. O que deveria ser um atendimento dedicado e cuidadoso transformou-se em uma corrida contra o tempo, onde cada técnico de enfermagem se vê forçado a atender não apenas seis, mas até quatorze pacientes simultaneamente. Em um desses episódios de sobrecarga, um paciente teve um ‘garrote’ retirado de seu antebraço um dia depois de ter sido fixado, um erro que poderia ter sido evitado em circunstâncias normais.
A falta de gestão eficiente apenas acentua a crise. Os enfermeiros ‘chefes’ se veem sem a autonomia necessária para tomar decisões cruciais no momento certo. A burocracia engessada e a falta de resposta rápida às necessidades da equipe resultam em situações onde vidas são colocadas em risco devido à falta de recursos e de planejamento adequado. Nos finais de semana, quando a demanda muitas vezes é ainda maior, os superiores, que centralizam a tomada de decisões, desaparecem, desligam seus celulares e deixam os profissionais da linha de frente sem suporte adequado.
Os relatos pessoais dos profissionais pintam um retrato ainda mais sombrio. Uma enfermeira que atua na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) desabafa sobre a desumanidade do ambiente de trabalho, onde a saúde mental dos profissionais é colocada em segundo plano. A falta de condições básicas, como alimentação adequada para os funcionários, é apenas um sintoma de uma crise mais profunda que afeta não apenas o corpo, mas também a alma da Enfermagem.
Enquanto a população aguarda atendimento, os profissionais de Enfermagem clamam por ajuda. É uma situação que clama por mudanças urgentes, por investimentos reais em recursos humanos e estruturais, por uma gestão que priorize o bem-estar daqueles que estão na linha de frente da saúde pública. Caso contrário, o grito por socorro continuará ecoando sem resposta, e o sistema de saúde continuará a naufragar em sua própria crise negligenciada.