Nessa empresa, localizada em Toledo, ocorriam desvios de insumos e rações que deixavam de ir para a suinocultura, causando prejuízo milionário aos produtores. Foto: Polícia Civil/20ª SDP

Entre as irregularidades encontradas, destaca-se o desvio de insumos que deixavam de ir para suínos da região, sendo encaminhados para as fazendas dos investigados; na mira da Polícia Civil estão um frigorífico e uma empresa de nutrição animal

Por Fernando Braga

Uma situação perturbadora, que choca o cenário agropecuário de Toledo e região vem à tona com recentes revelações de um intrincado esquema envolvendo fraudes, roubos e outras irregularidades que há tempos vêm causando prejuízos a produtores rurais.

O conjunto de irregularidades envolve uma fraude milionária que coloca no olho do furacão empresários proeminentes do setor de proteína animal. Ligadas a um frigorífico, duas empresas, uma de criação de suínos e outra de nutrição animal, deixaram suinocultores e credores com prejuízos que ultrapassam R$ 100 milhões.

O delegado-adjunto da 20ª SDP, dr Rodrigo Baptista Santos, em entrevista coletiva concedida na manhã desta sexta-feira (02), relatou que em outubro do ano passado uma grande empresa sediada na cidade de Palotina procurou a Polícia Civil para denunciar possíveis desvios de rações e insumos que eram fornecidos a uma empresa de Toledo, e que deveriam ser distribuídos aos suinocultores da região. O prejuízo auditado por essa empresa chega a um valor entre R$ 7 milhões e R$ 8 milhões.

A partir da denúncia, equipes da 20ª Subdivisão Policial fizeram apurações que demonstravam certa complexidade nas operações fraudulentas, pois envolvia questões fiscais e documentais, além do fornecimento e armazenamento de grãos em barracões localizados em Toledo.

O delegado explicou que inicialmente as investigações indicavam o desvio de insumos, sendo que a empresa de proteína animal recebia grãos para a produção de ração que deveria ser entregue aos suinocultores, mas parte desta era desviada para fazendas que pertenciam ao grupo investigado, sendo utilizada para alimentar bois pertencentes aos envolvidos (essas fazendas estão localizadas em lugares distantes da região de Toledo). O desvio prejudicou diversas empresas e suinocultores da região, como a denunciante de Palotina e outras vítimas de Toledo, Quatro Pontes e Ouro Verde do Oeste. Ao todo, o número de prejudicados pode chegar a 20 produtores. Algumas dessas vítimas disseram à polícia que vêm sendo lesadas há pelo menos dois anos.

No último sábado (27), um dos empresários pertencentes ao grupo investigado foi preso. W. A. S. tem 45 anos e ficou preso preventivamente na Cadeia Pública de Toledo. Ele foi preso em sua residência quando se preparava com amigos para fazer um churrasco. No entanto, sua prisão foi revogada na tarde desta sexta e ele foi posto em liberdade.

Seu advogado de defesa, Matheus Guilherme Bottoli, entende que não há ilicitude por parte do cliente e acredita que tudo não passa de um mal-entendido entre as empresas, pois, ao seu ver, o prejuízo causado aos credores e produtores rurais se trata de uma questão de administração da empresa investigada. Ele também informa que a defesa não teve acesso total às provas, pois a investigação está sob sigilo. Porém, ele admite que a empresa de seu cliente passa por uma recuperação judicial e confirma a dívida anunciada pelo delegado [que deve ultrapassar R$ 100 milhões].

Contudo, o empresário que foi preso não é o único investigado e a Polícia Civil mantém em sua mira outros empresários. Ao menos outras três pessoas estariam participando do grupo. Duas delas têm ligação com um frigorífico de Toledo que estaria apresentando irregularidades nos abates dos suínos – e calote aos produtores –, provocando um prejuízo que pode chegar a R$ 20 milhões, de acordo com o dr. Rodrigo Santos. Porém, conforme explica o delegado, o frigorífico é alvo de uma investigação paralela, que envolve desvios no abate e de medicamentos que deveriam ser fornecidos para uso nos animais.

Os investigados podem responder por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Eles criaram empresas fantasmas para lavar o dinheiro e ocultar bens, deixando o patrimônio no nome de laranjas, incluindo uma pessoa ligada ao frigorífico.

Durante esta semana foram cumpridos 07 mandados de busca e apreensão, resultando na apreensão de diversos documentos, celulares e computadores que serão analisados a fim de identificar todos os autores.

Ainda na tarde desta sexta-feira, após a entrevista concedida pelo delegado, W. A. S. teve sua prisão revogada e foi colocado em liberdade. Enquanto o inquérito policial estiver em andamento, o investigado terá que utilizar tornezeleira eletrônica e não poderá entrar em contato com os demais investigados e nem com as vítimas dos golpes. Ele fica também proibido de frequentar as empresas envolvidas.

Clique AQUI para assistir a transmissão feita pela página do Facebook da Gazeta de Toledo, com a entrevista ao delegado-ajunto da 20ª SDP, dr. Rodrigo Baptista Santos.

Barracão da empresa onde ocorriam desvios dos insumos. Foto: Polícia Civil/20ª SDP