Por Cris Loose*

A diretora de Engajamento e Sustentabilidade do Parque das Aves, Luciana Leite, confirmou nesta terça-feira (9) que no começo da madrugada duas onças entraram no recinto dos flamingos, no espaço que fica ao lado do Parque Nacional do Iguaçu.

De acordo com ela, a onça fêmea estava ensinando o filhote a caçar, mas 172 dos 176 flamingos que viviam no espaço, morreram. Luciana disse que nem todos os animais morreram em decorrência do encontro direto com a onça.

“Nos flamingos e em algumas outras aves existe um fenônemo que chamamos de miopatia de captura, que ocorre quando os animais, em contato com o predador, em uma situação de estresse, morrem em decorrência de uma parada cardíaca”, informou.

[bsa_pro_ad_space id=17] [bsa_pro_ad_space id=15]

Luciana também disse que os veterinários do Parque das Aves estão fazendo a autópsia nos animais para tentar entender a causa da morte de cada um deles.

“É um dia de extrema tristeza e luto para a nossa equipe.”

Onças do Iguaçu – A coordenadora do Projeto Onças do Iguaçu, Yara Barros, confirmou que as duas onças que entraram no Parque das Aves no começo da madrugada desta terça-feira (9) são a Indira, uma onça jovem que nasceu no Parque Nacional do Iguaçu, em 2018, e o filhote dela, o Aritana, que foi registrado pela primeira vez neste ano pelos pesquisadores.

Em agosto, a onça Indira e o filhote foram flagrados passeando no Parque Nacional do Iguaçu.

“Eles entraram no recinto e acabaram matando vários flamingos. Outros acabaram morrendo por causa do estresse provocado pela perseguição. Nós estamos trabalhando junto com o Parque das Aves para reforçar as medidas de segurança, que já existiam e vamos fazer junto com o Parque das Aves, um monitoramento de longo prazo”, afirmou.

Yara esclareceu que as onças não representam um perigo para os seres humanos. A coexistência entre onças e pessoas é possível.

De acordo com a nota emitida pelo Projeto Onças do Iguaçu, “o Parque das Aves é todo cercado e funcionários monitoram o perímetro e áreas internas diariamente, e seguem orientações de segurança fornecidas por nós. Ainda assim, toda proteção e cuidados não evitou a entrada dos predadores. Em 27 anos de existência do Parque das Aves, isso nunca aconteceu”.

“Temos recebido muitos questionamentos e comentários sobre o comportamento das onças, alguns com conotação extremamente negativa. Onças são animais selvagens, são carnívoros, exímios predadores. Elas caçam e se alimentam de outros animais. Não são cruéis. São onças.

Nos perguntam se é seguro visitar os parques. Sim, é seguro. As onças sempre existiram na região e no Parque Nacional do Iguaçu, e não há um único registro de acidentes com pessoas em toda história. As onças tendem a se afastar de pessoas e buscar refúgio na mata, que é a sua casa e seu abrigo. Uma afirmação que surgiu é que existe um ‘surto’ de onças-pintadas na região e isso têm sido escondido para não provocar medo. Esclarecemos que não temos um surto de onças. Temos uma população ameaçada, estimada em 28 animais espalhados pelos 185 mil hectares do Parque Nacional do Iguaçu. Essa é uma quantidade aliás pequena para a área em questão.

Em toda a Mata Atlântica existem cerca de 250 onças-pintadas apenas. Temos uma população criticamente ameaçada de extinção que quase se extinguiu na década de 90, e que com muito esforço e dedicação de muita gente, conservacionistas e lindeiros, vem se recuperando. Aos poucos, mas sempre inspirando cuidados. E precisamos do apoio de todos para continuar.

Nossa equipe se solidariza e compartilha o sofrimento da equipe do Parque das Aves pela perda de animais tão especiais. Ainda assim, continuamos firmes no nosso propósito de proteger e conservar as nossas onças. Nossas onças não precisam ser julgadas criminosas. Precisam que nós transformemos nosso amor por elas em ações de conservação. Para que elas possam ter uma chance de sobrevivência”, diz a nota.

Há anos os pesquisadores do Projeto visitam frequentemente as propriedades no entorno do Parque Nacional do Iguaçu. Eles avaliam, instalam dispositivos anti-predação, checam o funcionamento dos equipamentos, identificam pontos vulneráveis e orientam. Além disso, compartilham as imagens dos animais registrados pelas câmeras instaladas na mata e apoiam novas alternativas de renda.

Luto – A família Croukamp, responsável pelo local, decretou três dias de luto e o Parque das Aves só voltará a receber visitantes na sexta-feira (12). Por meio das redes sociais, foi compartilhada uma nota:

O Parque decretou luto de três dias e tem previsão de reabertura ao público na sexta-feira (12). Neste momento, estamos acolhendo os nossos colaboradores que criaram essa colônia de flamingos desde 1995, quando chegaram aqui os 16 primeiros indivíduos resgatados…

…Essa cicatriz ficará para sempre na história do Parque, porém estamos confiantes de que recomeçaremos a colônia de flamingos e uma nova história. Pedimos a todos que, em respeito ao nosso trabalho, não divulguem informações, imagens sobre esse acontecimento, que não venham de nossos canais oficiais.

Os flamingos – A colônia de flamingos começou a ser criada em 1995, quando chegaram a Foz os 16 primeiros indivíduos resgatados, que encontraram no local uma segunda chance de vida e, com todos os cuidados e a atenção da equipe veterinária e do zootecnista, conseguiram se reproduzir e formar a colônia que o Parque mantinha até o começo desta madrugada.

“É uma cicatriz na história do Parque das Aves. Estamos todos tristes, mas confiantes de que nos reergueremos como já fizemos e recomeçaremos nossa colônia de flamingos e uma nova história”, explicou Luciana.

O Parque das Aves – O Parque das Aves é a única instituição do mundo focada na conservação das aves da Mata Atlântica, oferecendo uma experiência de contato próximo e imersivo com elas. São 16 hectares de Mata Atlântica e mais de 1.300 aves, de cerca de 130 espécies, sendo mais de 50% proveniente de apreensões. O Parque também participa de diversos programas de conservação.

História – É possível dizer que o Parque das Aves é resultado de um encontro que ocorreu em 1976, quando a veterinária Anna-Sophie Helene se mudou da Alemanha para a Namíbia, na África, onde conheceu Dennis Croukamp. Eles trabalharam juntos, se apaixonaram e tiveram duas filhas: Anna-Luise e Carmel.

Na década de 1980, o casal ganhou um filhote de papagaio-do-congo, Pumuckl, que se tornou um membro da família. Em seguida, outras aves da mesma espécie passaram a viver no quintal da família que no início dos anos 1990 se mudou para a Ilha de Man, no Reino Unido. Um amigo sugeriu que abrissem um parque de crocodilos em Foz do Iguaçu, no Brasil. Dennis replicou: “Eu gosto de aves. Criaremos um parque de aves”.

O sonho – Em novembro de 1993, com o livro “Português em três meses” em mãos, eles compraram 16 hectares ao lado do Parque Nacional do Iguaçu. Começaram a construir o Parque das Aves em novembro de 1993. As obras foram planejadas para que nenhuma árvore nativa precisasse ser derrubada.

As primeiras aves chegaram a partir de doações ou empréstimos de outros zoológicos, além de animais confiscados que foram enviados pelo Ibama. Nessa época, muitas espécies eram de outros continentes. Em 1994, John Leggatt, amigo da família Croukamp, veio para Foz do Iguaçu ajudar na fundação do Borboletário.

E em 7 de outubro de 1994, apenas 11 meses após o desembarque de Dennis e Anna no Brasil, a família Croukamp inaugurava o Parque das Aves. No ano seguinte, Dennis ficou muito doente. Dois anos depois de idealizar o Parque das Aves, ele morreu, na Ilha de Man, aos 70 anos de idade. Hoje existe um memorial dedicado a ele em seu lugar favorito do Parque, o Viveiro Aves de Rios e Mangues.

Conservação – Desde 2017, a Dra. Carmel Croukamp, diretora geral do Parque das Aves desde 2010, decidiu focar as ações do Parque na conservação de espécies da Mata Atlântica.

Atualmente o Parque das Aves trabalha em diversos projetos de conservação, principalmente de espécies vulneráveis e ameaçadas de extinção, como a jacutinga, o papagaio-de-cara-roxa, o papagaio-de-peito-roxo, o mutum-de-alagoas e o cardeal-amarelo.

Parque das Aves trabalha no resgate de aves apreendidas e fornece um ambiente acolhedor para as que não podem retornar à natureza, investe em pesquisa e na reprodução de espécies dentro de programas de conservação, além de educar crianças e capacitar professores com o dinheiro arrecadado com a venda de ingressos, o consumo nos restaurantes e vendas na loja e no quiosque.

*Matéria produzida pela jornalista Cris Loose e gentilmente cedida para a Gazeta de Toledo. Confira a publicação original em Cris Loose #Compartilha